12 de setembro de 2008

Interlúdio Cinematográfico

Dr. Êpa (putíssimo, virando-se para jornalistas pós-adolescentes que mascam pipocas e falam ao celular atrás dele no cinema): Pândegos! Deglutidores de orangotangos! Vão caçar o Daniel Dantas e calem essa boca que a porra do filme tá interessante!
Juju Alpaca: Foi mal aí, vovô...
Dr. Êpa: Vovô é o caralho!

Sobem as cortinas.

Uma vida na noite de James Hollywood - parte 5

Estava cada vez mais difícil ser James Hollywood.

- Insolência! – disseram os 60 Motoqueiros do Inferno.
- Azáfama! – respondeu James Hollywood.
- Vamos botar para quebrar – disseram as 60 bocas espumando de raiva. E as 60 pares de pernas juntaram-se a outros 60 pares de braços e, como uma divisão Panzer (a comparação era de Klaus Oyster, meia hora depois) se lançaram sobre James Hollywood, que sumiu debaixo daquela massa fétida e raivosa.
Era o fim de James Hollywood (e dos mojitos, alguém pensou).

Mas então, eis que se ouviu, alto e nítido:
- Morram, morram, explodam! – e até quem era de paz, veio ver: James Hollywood escapara de 60 mata-leões simultâneos e agora distribuía sopapos equânima e exemplarmente, por meio de uma técnica de luta aprendida durante sua passagem pelo Mar Morto. Enquanto um pé estourava o nariz de um, uma mão destroçava um rim; e, ao mesmo tempo em que outro pé quebrava os meniscos de um terceiro, um quarto era atingido por um soco que era um míssil. James Hollywood dançava o balé da morte sob um palco de ossos humanos. Os 60 Motoqueiros do Inferno aprendiam, duramente, que todo magricelo, por questões de sobrevivência, era amigo de alguém como James Hollywood.

Porém, ele foi puxado pelo colarinho para fora da sala e, jogado contra uma parede, ouviu:
- Leve-me para O lugar, Jamie...

Uma vida na noite de James Hollywood - parte 4

Aquela loira era tudo o que James Hollywood queria, ele pensa enquanto vê os enormes seios da garota balançarem freneticamente acima de seu rosto. Pensa: não foi preciso ir à rua das Perdições Perdidas. Ele economizou uma boa grana, e agora pode abarcar aquela imensidão de mamas com as suas duas mãos sem pagar um centavo. James Hollywood se sente o maioral.

Um redemoinho dominou a festa. James Hollywood sentiu Klaus Oyster puxar seu braço:
- Jamie, precisamos de seus serviços.
E então James Hollywood foi levado ao olho do furacão.
Era como se um polvo enorme, saído de um filme de ficção científica dos anos 50, tivesse capturado Onion Jack. Pareceu a Hollywood que ele tentava se livrar, debatendo-se desesperadamente, mas a garota-polvo o prendia ao seu corpo com seus milhares de tentáculos pegajosos. Onion Jack tinha a sua cabeça presa aos enormes seios da garota-polvo, suas mãos, por mais que ele se esforçasse, nunca conseguiriam se encontrar dando a volta pela cintura dela; quando ela se retesava, Onion Jack ficava balançando as pernas no ar. O sorriso da garota-polvo fazia pensar que ela tinha mais de mil dentes, e o seu rosto de satisfação a cada aperto em Onion Jack fazia Hollywood se lembrar de Jabba the Hut. Mas então James Hollywood chegou mais perto e entendeu: Onion Jack estava tentando levar Walkiria Jones, a garota-polvo, para a cama – e ela estava prestes a ir.

- Meu Deeeeeeeeus! Precisamos salvá-lo das garras de Walkíria, antes que seja tarde demais – gemeu Klaus Oyster, tomado de pânico.
- Agora é comigo – disse oceanicamente James Hollywood, enquanto tirava de entre os convidados a única pessoa que poderia separar Onion Jack e Walkiria Jones: Sheila Zeitgeist, loira, alta, esguia, e a única mulher dentre as demais que comia cebola sem chorar.
James Hollywood, usando Sheila Zeitgeist como um pé-de-cabra, em instantes havia separado os dois. Onion Jack, que ainda sofria os efeitos da poderosa magia de Walkiria, se fez de besta e desapareceu festa a dentro, Sheila a tiracolo.
Walkiria Jones desapareceu sob uma densa nuvem de amônia.
Onion Jack respirou aliviado – porém, logo foi puxado pelo colarinho por 120 pares de mãos ávidas. Os gritos de vingança enchiam o ambiente: eram os 60 Motoqueiros do Inferno – irmãos de Walkíria Jones.

Uma vida na noite de James Hollywood - parte 3

Ele desliga o chuveiro e caminha até o quarto, o corpo ainda molhado, ele pode sentir seu sangue correr pelas suas veias como que acelerando a uma velocidade absurda. A loira de seios enormes ronrona ao vê-lo. Subitamente, o sangue no corpo de James Hollywood começa a correr em uma única direção.

Estava na hora de James Hollywood mostrar uma de suas especialidades.
A bebida era fornecida por Castor e Polux, um formidável e sensível casal. Daquelas quatro habilidosas mãos saíam os Sex on the Beach, os Moe Flamejantes, as caipirinhas de todas as frutas imagináveis e os Hi-Fis que provocavam a combustão da festa.
Hollywood entrou na cozinha onde os dois trabalhavam febrilmente. Com um rápido olhar, achou o rum; abriu a geladeira e viu, feliz, garrafas e mais garrafas de Club Soda. Ponderou onde estaria a hortelã e os limões – na mosca. Acercou-se então da pia com os ingredientes e, indiferente aos olhares felinos de Castor e de Polux, pôs-se a trabalhar.
- Onde está a coqueteleira? – perguntou.
Polux lhe entregou uma. James Hollywood fechou os olhos e, por um momento, foi Sean Connery agitando um drink para a espiã deitada na sua cama. Abriu os olhos e quem estava à sua frente era Castor.
Despejou o líquido em um copo e deu para que ele provasse:
- São mojitos – disse Hollywood, professoral.
Castor deu um gole e passou o copo para Polux. Logo, os dois pediam, dando pulinhos e gritinhos, para que ele lhes ensinasse a preparar a bebida.

James Hollywood parou na porta da cozinha, empunhando seu mojito, tragando seu cigarro com os dedos prestes a puxá-lo da boca e olhando para o interior da casa como se estivesse no alto de uma montanha. Avistou a garota ruiva sozinha, no mesmo lugar onde a abordara, e lamentou apenas que tivesse seios pequenos – James Hollywood tinha fixação por mulheres vastas, de seios fartos e coxas amplas. Mas agora era uma questão de honra, por isso, avançou resoluto em sua direção.
- Quer provar? É um mojito – ofereceu, solícito.
- Obrigado, mas minha mãe falou que não era para eu aceitar bebida de estranhos – e ela se afastou, deixando-o com o braço estendido.
James Hollywood olhou para trás e viu Onion Jack e Klaus Oyster gargalhando – seria dele?

Uma vida na noite de James Hollywood - parte 2

“Smoke on the water”, jorrava do alto-falante. “And fire in the sky”, gritava James Hollywood, agora que a flora da Ásia Central reverberava pela sua cabeça. Viera à festa em seu uniforme de Marlon Brando: uma jaqueta de couro sobre a camiseta branca, calças jeans e – ultraje ao jovem transviado – tênis a la Johnny Ramone. Isso, combinado com seu jeito litorâneo de andar (e de falar) o fazia imantado para as mulheres, apesar de todas as dificuldades inerentes à sua timidez inata. Mas agora James Hollywood encarnava Ian Gillan, e isso não estava bem, lhe fez saber Klaus Oyster:
- Jamie, você é uma fraude.

Ele se acercou de uma ruiva tão branca que era um insulto. James Hollywood tinha de levar alguém para a cama, mas ainda não estava muito claro para ele como escolher o alvo. E, menos ainda, ele imaginava como convencer alguém a dormir com ele. Por isso, aproximou-se da garota ruiva um tanto inseguro de palavras. Sabia que a primeira frase determinava o futuro da abordagem, e sabia também que era nisso que residia seu maior problema.
- Nunca estive tão perto de uma estrela.
Ela se virou, mas não disse nada, apenas o olhou – como uma estrela.
- A cor do seu cabelo, junto com a da sua pele, faz com que você brilhe como uma – e James Hollywood sorriu.
A garota ruiva então abriu sua bolsa, tirou de lá um par de óculos escuros e os estendeu a ele. James Hollywood o pegou meio sem jeito enquanto ela dizia:
- Para você não ficar cego.
E deixou-o sozinho. Hollywood pensou ter ouvido Onion Jack e Klaus Oyster gargalharem.

Uma vida na noite de James Hollywood - parte 1

Acorda com um raio de sol na cara. Lentamente, estica o braço em direção ao criado-mudo, alcança o isqueiro; com o pé, pega a jaqueta de couro, largada no fim da cama, e a joga para si. Tira do bolso interno duas batatas fritas e o primeiro Marlboro do dia. Dá uma longa tragada e deseja que tudo aquilo seja um sonho.
James Hollywood olha para o lado e vê a loira de seios enormes, emborcada ao seu lado – ele ainda pode vê-los espremidos contra os lençóis. Lembra-se de como a conquistou; e esboça um leve sorriso.
Agora, apaga o cigarro e dirige-se instintivamente ao banheiro. A água quente o envolve e chama de volta a realidade, porém ela não atende: como ele havia chegado ali?

Devia ser coisa daqueles caras. Entrou na casa e logo Onion Jack estava ao seu lado.
- Tenho algo para te mostrar.
Ele abriu a mão, revelando um pequeno quadrado, feito de folhas esverdeadas, densamente prensados. Os olhos de James Hollywood pulsaram.
- São do Afeganistão, cara, e fazem um estrago impressionante.
- Do Afeganistão? – quis verificar Hollywood. – Eles fazem ópio lá, cara.
- Agora estão diversificando – esclareceu Onion Jack, grave. – Muita pressão da ONU, e agora que os marines estão por lá também...
- Os marines?
- Para ver se pegam o Bin Laden. Ouvi falar que o Pentágono desenvolveu uns submarinos que se movem debaixo da terra, Jamie. E ninguém melhor para pilotá-los do que os marines, não é mesmo?

Agora ele se pergunta porque Onion Jack lhe chamara por um nome que podia ser até de um cozinheiro, mas não era o dele – por enquanto.

Aliás, quem é Onion Jack?