A volta de Dona Gerda teve um efeito acachapante no Schopenhaus. Logo todos estavam num frenesi dionisíaco, numa festa com incenso, roupas de cores estranhas e curiosas charuletas de ervas fumegantes e de cheiro forte. Baikal, Stolichnaya e Smirnoff, as garçonetes bêbadas e desinibidas do Schopenhaus, agora chapadas idem ibidem, dançavam o créu na velocidade 5 sem desencaixar. Jurema voava pelo salão, o sino em seu pescoço balangando ding-dongs kraftwerkianos, numa náice. Tudo ia muito bem, quando se ouve um grito e o salão pára, como que num soluço:
Dr. Êpa: Mas que libertinagem é essa?
Todos os olhos se voltam para a porta, menos os de Baikal, Stolichnaya e Smirnoff, que continuavam a dançar o créu na velocidade 5 (como não falam português e estão sempre bebaças, nunca conseguiram compreender o que aquele velhinho baixinho fazia no bar).
Dr. Êpa: E que fumaceira é essa?
Silêncio.
Dr. Êpa: Antenor, bote ordem nessa quizumba a-go-ra mesmo, tá me entendendo?
Silêncio.
Silêncio.
Dr. Êpa: Antenor! Rápido com isso!
Silêncio.
Dr. Êpa: Cadê o insolente do Antenor?
Freguês desavisado: Tá caído atrás do balcão, seu Êpa - opa, opa, tira a mão da minha bunda!
Todos correm em desabalada carreira para ver o que aconteceu com Antenor.
Antenor (gravitando na órbita de Plutão): Aspiurundub?
Dona Gerda (sorrisinho no canto da boca, falando para si mesmo): Deu certo minha experiência...
Jurema (filosoficamente): Mu!
O sesquicentenário Dr. Êpa está furibundo. Resolve botar ordem no barraco antes de perder a moral com a rapaziada:
Dr. Êpa (intransigente): Joguem água na cara dele! Gerda, tire esses trapos ridículos e vá já pra cozinha! O eisbein afrodisíaco está te esperando!
Lena Slutz (indignada): Seja lá quem for, tem 5 minutos pra tirar a mão da minha bunda!
Jurema (intrigada): Mu?
Gerda (agitando os braços como uma shiva da periferia): Azáfama! Vitupério! Nunca que eu volto pra aquele matadouro! Eu agora sou vegetariana!
Silêncio.
Dr. Êpa (glosando o mote): Vegetariana é o canário! Logo agora que eu já fechei contrato pra produzir o biodiesel de eisbein a senhora me vem com essa história pra boi dormir!
Jurema (pensando no boi): Mu!
Antenor (irritado): Cauby, já falei que é pra tirar a mão da minha bunda!
Humilhada e ofendida, Dona Gerda se põe a trabalhar. Separa meticulosamente 15 toneladas de maconha plantadas por 150 meninas surdas-mudas e lésbicas da margem esquerda do Ganges; depois, reserva ao lado da erva outro tanto de estrume, gloriosamente cagado por Jurema durante o tempo em que Gerda esteve na Índia. Ela começa a rezar o Gayatri enquanto mistura tudo com água quente. E despeja sobre o Eisbein que acabara de requentar.
Dona Gerda (mandando brasa):
Aum bhūrbhuvasvah...
tat savitūrvareṇyam...
bhargo devasya dhīmahi...
dhiyo yo naha pracodayāt!
Terminada a função de Gerda, Baikal, Stolichnaya e Smirnoff, russas, bêbadas, desinibidas e chapadas levam generosas porções do acepipe a todos os convivas, que se servem ansiosamente, mastigando e bebendo feito vikings.
Os efeitos ayurvédicos são imediatos.
Lana Slutz: Nossa, que eu nunca tinha visto aquele hipopótamo ali?
Lena Slutz: Eita que a bagaça tá queimando! Sai daí, flor, que eu te capoto no tapa!
Lina Slutz: Venham aqui, borboletinhas curiosas!
Salustião Porreirinha: Abram alas para Dom Sebastião! Ave, César!
Nico, o Porteiro: Mas porque a Gerdinha está com as pernas onde deveria estar a cabeça, e os braços onde deveriam estar as pernas? Cadê sua cabeça, meu Panzerzinho?
Antenor: Apertem os cintooooooooooooooos (e sai pilotando um F5)!
Jurema (impassível): Mu.
Dona Gerda esfrega as mãos de satisfação.
"Isso é que não", diz Shiva muito puto